O CRISTIANISMO NASCEU MESMO NA PALESTINA?
Resumo
O topônimo Palestina é muito utilizado por historiadores e teólogos para designar o antigo território de Israel como lugar da habitação do povo judeu e da origem do Cristianismo. No entanto, a palavra Palestina não aparece em nenhum mapa antigo se referindo ao território habitado pelo povo judeu ou pelos primeiros cristãos. O objetivo deste artigo é identificar as razões dessa utilização, bem como suas implicações teológicas. O vocábulo Palestina está etimologicamente associado ao povo filisteu e à terra onde habitavam, que se chamava Filístia. Esta era uma pequena faixa costeira onde os filisteus, oriundos de Caftor, atual Creta, se estabeleceram em cinco cidades-estados após serem expulsos do Egito pelo Faraó Ramsés III. O termo Filístia nunca foi utilizado para denominar a região central daquela terra prometida a Abrão que teve, até o segundo século d.C., os sucessivos nomes de Canaã, Israel, Judá e Judeia, mas não Filístia ou Palestina. O nome Palestina foi dado pelo imperador romano Adriano após sufocar a segunda revolta dos judeus liderada por Bar Kochba em 135 d.C. Ele mudou o nome da província romana da Judeia para Síria-Palestina. Também mudou o nome de Jerusalém para Aelia Capitolina. Palestina é um nome pagão, relacionado à terra e ao povo filisteu que foi dado à Judeia, posteriormente ao tempo de Jesus, com o objetivo de anular, de maneira difamatória, a cosmovisão judaica daqueles revoltosos habitantes. Ao renomear a terra dos judeus com o nome da terra de seus piores inimigos, Adriano intencionou destruir para sempre a identidade do povo judeu adicionando a tortura psicológica aos que escaparam da morte e da deportação. Chamar a Terra Santa de Palestina, além de ser um equívoco histórico-temporal, é também uma questão de incoerência, pois quem assim o faz deveria também rejeitar o nome de Jerusalém e usar apenas Aelia Capitolina, pois Adriano mudou os dois nomes, mas nenhum teólogo ou historiador jamais afirmou que Jesus ensinou ou morreu em um lugar chamado Aelia Capitolina. Portanto, afirmar que o Cristianismo nasceu na Palestina é compartilhar a assimilação cultural de um termo pagão que não se encontra na narrativa bíblica. Na verdade, especialmente no meio acadêmico e teológico, o correto, historicamente, é afirmar que o Cristianismo nasceu na Judeia.